No último final de semana, a “Terra da Barragem”, como é conhecida a pequena Sobradinho, localizada a cerca de 550 km de Salvador, realizou a VIII Romaria das Águas, com o tema “Água é Vida! A morte do Velho Chico é a morte do seu Povo”.
O evento reuniu romeiros de todo o Território Sertão do São Francisco, que além de discutir os problemas que afetam diretamente o Rio São Francisco, também fizeram um debate sobre as ameaças que têm rondado o povo Ribeirinho. A mais nova dessas ameaças é a implantação de Parques Eólicos.
São muitos os relatos de irregularidades no processo de implantação desses parques. Segundo Marina Rocha, integrante da CPT - Comissão Pastoral da Terra de Juazeiro-BA, “as empresas que chegam em nome do capital, parece que pensam que o povo não sabe seus direitos, por conta disso elas chegam como um trator, passando por cima de todas as comunidades, dos direitos, da realidade dessas comunidades. É um desrespeito total!”
Marina afirma que “as empresas não consultam e não informam a sociedade que tipo de projeto estão querendo implementar”. Ela atribui esse posicionamento a prioridade dessas empresas: o lucro. “Por conta disso eles não pedem permissão e vão entrando nas comunidades, seja para pesquisar minérios, seja para implantar energia eólica”, relata Marina.
Para Marina esses empreendimentos sempre chegam “com milhões de promessas: geração de emprego, geração de renda, geração de desenvolvimento e progresso”. Tantas “vantagens” acabam encantando as pessoas que aceitam a proposta sem ao menos conhecer.
“Eu estive em uma comunidade onde a empresa chegou com os contratos, a máquina de xerox e pediu para que todos levassem os documentos. Era um contrato com nove páginas. Ao mesmo tempo em que chegavam já assinavam o contrato, entregavam os documentos para fazer a cópia e assinavam sem conhecer os detalhes do contrato”, conta a integrante da CPT.
Mesmo com o contrato assinado Marina diz que ainda é possível reverter a situação. “As pessoas não tiveram informação suficiente sobre esse contrato. Então, elas podem judicialmente anular esse contrato. É possível fazer isso. Então as pessoas devem se reunir em grupo para buscar a anulação”, explica.
Religiosidade – Padre João Sena (Paróquia de São Francisco de Assis – Sobradinho) entende que “a romaria tem o objetivo de despertar no povo o amor pelo rio São Francisco, o amor pela vida, o amor pela criação de Deus”.
No que diz respeito ao posicionamento da igreja diante da forma como as empresas de energia eólica têm chegado a região, Padre João é contundente: “a igreja tem que assumir a causa daqueles que são explorados pelos grandes projetos, seja no caso das mineradoras, seja no caso dos parque eólicos. A igreja tem a missão de defender a vida”, comenta o padre.
Cultura – Para o dirigente de cultura de Sobradinho Paulo Macêdo, “o diferencial da romaria das águas é agregar todos esses meios: o lado religioso, o lado social, o lado cultural”. Segundo o dirigente, a organização “sempre buscou garantir esse espaço cultural dentro da romaria”.
Participação juvenil – Marina Rocha avalia com muita satisfação a participação de jovens no evento. De acordo com ela “pessoas que já são experientes na luta não são mais enganadas com as falsas promessas do grande capital. Mas a luta precisa ser renovada. Então a gente fica muito alegre de perceber que tem muito jovem interessado nessa continuidade da luta”, expõe. Ela também vê como positivo a participação de Jovens urbanos. “Muitas vezes as pessoas da cidade ignoram essas realidades, acham que é problema do campo”, esclarece.
Padre João concluiu prevendo ações para o evento no próximo ano. “Nós vamos envolver mais as comunidades, intensificar mais o trabalho, valorizar mais a presença da juventude e procurar envolver os profissionais da educação”, prevê.