segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Romaria da Águas de Sobradinho pautou a implantação de grandes projetos


No último final de semana, a “Terra da Barragem”, como é conhecida a pequena Sobradinho, localizada a cerca de 550 km de Salvador, realizou a VIII Romaria das Águas, com o tema “Água é Vida! A morte do Velho Chico é a morte do seu Povo”.

O evento reuniu romeiros de todo o Território Sertão do São Francisco, que além de discutir os problemas que afetam diretamente o Rio São Francisco, também fizeram um debate sobre as ameaças que têm rondado o povo Ribeirinho. A mais nova dessas ameaças é a implantação de Parques Eólicos.

São muitos os relatos de irregularidades no processo de implantação desses parques. Segundo Marina Rocha, integrante da CPT - Comissão Pastoral da Terra de Juazeiro-BA, “as empresas que chegam em nome do capital, parece que pensam que o povo não sabe seus direitos, por conta disso elas chegam como um trator, passando por cima de todas as comunidades, dos direitos, da realidade dessas comunidades. É um desrespeito total!”

Marina afirma que “as empresas não consultam e não informam a sociedade que tipo de projeto estão querendo implementar”. Ela atribui esse posicionamento a prioridade dessas empresas: o lucro. “Por conta disso eles não pedem permissão e vão entrando nas comunidades, seja para pesquisar minérios, seja para implantar energia eólica”, relata Marina. 

Para Marina esses empreendimentos sempre chegam “com milhões de promessas: geração de emprego, geração de renda, geração de desenvolvimento e progresso”. Tantas “vantagens” acabam encantando as pessoas que aceitam a proposta sem ao menos conhecer.

“Eu estive em uma comunidade onde a empresa  chegou com os contratos, a máquina de xerox e pediu para que todos levassem os documentos. Era um contrato com nove páginas. Ao mesmo tempo em que chegavam já assinavam o contrato, entregavam os documentos para fazer a cópia e assinavam sem conhecer os detalhes do contrato”, conta a integrante da CPT.

Mesmo com o contrato assinado Marina diz que ainda é possível reverter a situação. “As pessoas não tiveram informação suficiente sobre esse contrato. Então, elas podem judicialmente anular esse contrato. É possível fazer isso. Então as pessoas devem se reunir em grupo para buscar a anulação”, explica. 

Religiosidade – Padre João Sena (Paróquia de São Francisco de Assis – Sobradinho) entende que “a romaria tem o objetivo de despertar no povo o amor pelo rio São Francisco, o amor pela vida, o amor pela criação de Deus”.

No que diz respeito ao posicionamento da igreja diante da forma como as empresas de energia eólica têm chegado a região, Padre João é contundente: “a igreja tem que assumir a causa daqueles que são explorados pelos grandes projetos, seja no caso das mineradoras, seja no caso dos parque eólicos. A igreja tem a missão de defender a vida”,  comenta o padre.

Cultura – Para o dirigente de cultura de Sobradinho Paulo Macêdo, “o diferencial da romaria das águas é agregar todos esses meios: o lado religioso, o lado social, o lado cultural”. Segundo o dirigente, a organização “sempre buscou garantir esse espaço cultural dentro da romaria”.

Participação juvenil – Marina Rocha avalia com muita satisfação a participação de jovens no evento. De acordo com ela “pessoas que já são experientes na luta não são mais enganadas com as falsas promessas do grande capital. Mas a luta precisa ser renovada. Então a gente fica muito alegre de perceber que tem muito jovem interessado nessa continuidade da luta”, expõe. Ela também vê como positivo a participação de Jovens urbanos. “Muitas vezes as pessoas da cidade ignoram essas realidades, acham que é problema do campo”, esclarece. 

Padre João concluiu prevendo ações para o evento no próximo ano. “Nós vamos envolver mais as comunidades, intensificar mais o trabalho, valorizar mais a presença da juventude e procurar envolver os profissionais da educação”, prevê.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Polícia prende matadores de extrativistas

Os irmãos José Rodrigues Moreira e Lindonjonson Silva Rocha, apontados pelo Ministério Público como mandante e executor da morte do casal de ambientalistas José Cláudio Ribeiro Silva e Maria do Espírito Santo Silva, no dia 24 de maio, em Nova Ipixuna, foram presos ontem de manhã em operação conjunta das polícias Civil e Militar. 

A reportagem é de Carlos Mendes e pubicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 19-0-2011.

Os dois estavam escondidos em um barraco no meio da mata no município de Novo Repartimento, no Baixo Tocantins. Com eles, os policiais encontraram três revólveres calibre 38 e uma espingarda. Sob forte escolta, eles foram levados de helicóptero para Belém, onde chegaram no começo da noite para prestar depoimento ao delegado Rilmar Firmino.
"Foi um trabalho árduo de investigação, porque eles sempre se deslocavam de um local para outro, dentro do Pará, tentando confundir a polícia. Mas nós demos o bote na hora certa e os pegamos", disse ao Estado o delegado-geral da Polícia Civil, Nilton Ataíde, que promete contar os detalhes da prisão em entrevista coletiva, nesta segunda.

Orelha cortada

José Cláudio e Maria do Espírito Santo foram surpreendidos por emboscada armada pelo fazendeiro José Rodrigues e seu irmão em uma estrada de acesso ao assentamento Praialta Piranheira. O casal recebeu tiros no peito e na cabeça. Depois de morto, José Cláudio teve uma das orelhas cortadas por um dos matadores. A promotora de Justiça Amanda Luciana Lobato denunciou Rodrigues e Lindonjonhson por homicídio duplamente qualificado. Ambos fugiram depois de ter a prisão preventiva pedida pelo Ministério Público à Justiça de Marabá.