Insatisfeitos com os danos que já causaram, querem mudar a lei para destruir ainda mais.
03/06/2011
Roberto Malvezzi (Gogó)
A desertificação avança no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Aqui na região Nordeste temos manchas de desertificação no Piauí, Pernambuco e Ceará. Esses dias novas notícias dizem que o norte de Minas pode transformar-se num deserto em 20 anos.
As perspectivas do aquecimento global para a região semiárida projetam a inviabilização de toda a região para a agricultura até o final do século, caso a temperatura da Terra suba entre dois e sete graus. O cálculo é que, para cada grau de aumento da temperatura, há uma perda de 10% na produção de certos produtos. Dessa forma, fala-se que o Ceará pode perder até 70% de sua fertilidade caso a temperatura suba mesmo sete graus.
Cenário tão terrível como esse é também pintado para a região amazônica, na já rotineira afirmação que a região pode transformar-se de uma floresta tropical em uma rala savana.
Some-se a esses cenários o macabro legado do agronegócio no Brasil, que deixou por onde passou cerca de 80 milhões de hectares inviabilizados para qualquer produção. Alguns falam em recuperar essas áreas, mas os que cometeram o crime querem desmatar ainda mais.
Talvez seja esse o ângulo mais cruel do código da desertificação proposto agora pelos ruralistas. Insatisfeitos com os danos que já causaram, querem mudar a lei para destruir ainda mais. Mas, agora querem fazê-lo legalmente, dentro da lei.
Certamente o planeta Terra vai saber distinguir entre seus danos legais e ilegais. Afinal, na cabeça desse povo, se a queimada e o desmatamento forem legais, certamente não contribuirão para o efeito estufa, não degradarão os solos, não eliminarão os mananciais, não comprometerão a galinha dos ovos de ouro.
Parece que os ruralistas estão encontrando um osso duro de roer chamado Dilma. A presidenta já garantiu que, se o código da desertificação for aprovado, ela veta. Não parece que esteja brincando. Mas, brasileiros que somos, só acreditaremos vendo.
Mas, vamos dar um crédito a essa postura. Afinal, está na hora de alguém pensar mais no país que nesses parceiros eleitorais de terceira categoria.
Roberto Malvezzi (Gogó) é assessor da Comissão Pastoral da Terra
Texto originalmente na edição 430 do Brasil de Fato